10 fevereiro 2008

Filme: Dogville (Lars Von Trier)

Para contar essa fábula sinistra dividida em um prólogo e nove capítulos, Von Trier utiliza um único cenário, como no teatro, em que cabe toda a vila. A marcação é feita no chão, incluindo o nome das ruas, das famílias que moram em cada casa e de um cachorro imaginário. Não há portas nem paredes e toda a movimentação do local pode ser vista com uma só tomada. Não há portas nem janelas em Dogville, mas seus moradores se movem como se elas existissem e escutamos o abrir-fechar de trincos e o ranger de dobradiças. O fundo é branco para o dia. Quando é noite, preto. Na pacata cidade surge do nada Grace (Nicole Kidman), uma jovem, de fina estampa, que foge de gângsteres. Não sabemos o que foi sua vida, relações ou lugares, antes de Dogville. Acolhida por Tom (Paul Bettany), que a convence permanecer na cidade, caso conquiste seus moradores. Grace se entranha naquela fechada comunidade e em troca da grandeza d'alma de seus moradores, executará ali pequenos serviços. Grace é procurada. Quando se intensifica o cerco à fugitiva, os habitantes se conscientizam do perigo que é oferecer abrigo à jovem, tornando-se assim, avarentos, cobrando um preço mais alto pela proteção à valiosa forasteira. Punida, aprisionada, Grace será escrava das mulheres e puta dos homens de Dogville. Assim se passam as três horas do filme, propositalmente lerdo no começo, mas que se torna angustiante no decorrer (especialmente nas cenas de sexo) e isso faz com que a escolha da forma não pareça gratuita. Ao final, fotografias de pobres americanos ao som de americans yongs na voz de David Bowie embalam o espectador que é arrancado de sua condição, e já se encontra na impossibilidade de sair dali incólume, sem pensar sobre o que engrandece e o que torna miserável a própria existência.

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