“Frozen Land” (“Paha Maa”)baseia-se no conto de Tolstoi “Faux Billet”. Esta referência é feita logo no início do filme, na aula de literatura de Pertti (Pertti Sveholm), um professor que, depois de ser despedido, cai no alcoolismo e, num impulso, expulsa de casa o seu filho Niko (Jasper Pääkkönen). Sob o efeito de drogas e álcool, Niko usa o computador do seu amigo Tuomas (Mikko Leppilampi) para imprimir uma nota de 500 euros. Com ela compra um rádio numa loja de artigos em segunda mão. Aí a nota passa para as mãos de Isto (Mikko Kouki), que é preso quando a tenta usar num restaurante. Isto vinga-se roubando um carro a um negociante de automóveis (Samuli Edelmann), que, por sua vez, confisca, por falta de pagamento, o carro de Teuvo (Sulevi Peltola, magnífico), um alcoólico em recuperação que vende aspiradores porta-a-porta. O destino destas personagens, interligado através de estranhas e trágicas coincidências, irá ainda ligar-se ao de Hannele (Matleena Kuusniemi), uma mulher polícia em plena crise depressiva e do seu marido Antti (Petteri Summanen), professor. “Frozen Land” aborda a teoria do caos, à semelhança de filmes como “Butterfly Effect", em que um simples acontecimento desencadeia uma série de desastres e fatalidades. Numa estrutura de episódios que se misturam, lembrando “21 Grams” de Alejandro González Iñarritu, “Frozen Land” não é exactamente circular, porque não há regresso possível, não há meio de emendar o passado, por muita capacidade de perdão que se possa ter. E porque “Frozen Land” não é um filme sobre o perdão, mas sobre a vingança. A vingança sobre os outros pelo mal que nos sucede. Porque recusamos o arbitrário e porque apenas vemos um lado da história, o ser humano precisa de se libertar do seu mau-estar passando aos outros, e com ele a sua raiva, as suas frustrações, os seus desamores, os seus erros. Com realismo, “Frozen Land” fala de problemas como o desemprego, o alcoolismo, a toxicodependência, a depressão, a violência. Tudo ambientando numa Helsínquia fria.
Um filme negro e triste, para o qual contribui a escuridão do tempo de Inverno, das casas mal iluminadas, dos ambientes lúgubres. Apenas a cena inicial/final se reveste de luminosidade, como se depois de todas as desgraças que acabámos de assistir, aquela fosse a luz da esperança de que a vida tem lago de bom ainda reservado.
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