17 setembro 2009

Filme: Slumdog Millionaire

Danny Boyle fez um filme honesto. Se houvesse prometido alguma coisa antes de fazer o filme, certamente teria cumprido tudo que pensou. Com excelente fotografia, elenco infantil e adulto muito bem escolhido, ótima trilha sonora, montagem mais que eficiente e um roteiro simples e direto, Boyle costura tudo isso com mão firme e prende o espectador do primeiro ao último minuto, emocionando e divertindo. Muito mais do que Índia, favela, a busca pela sobrevivência, por um prêmio milionário ou a fama em um programa de TV, o filme fala de integridade e honestidade, e nos lembra que não é a pobreza ou a simplicidade que nos torna seres humanos de pouco caráter ou sem dignidade, como muitos querem que acreditemos — em geral e inclusive muita gente “importante”, que no fundo não sabe mais o que significam esses valores. Mais ainda: nos relembra que o amor, hoje algo tão banalizado e colocado em segundo plano, tem que ter sempre uma posição prioritária em nossas vidas — toda forma de amor.

Filme: Vicky Cristina Barcelona

O delicioso senso de humor de Woody Allen e suas neuroses a respeito de relacionamentos sempre rendem bons roteiros. E mais uma vez ele usa sua receita de sucesso em sua nova comédia romântica - que no fundo é pouco romântica e mais realista. É fácil enxergar nos divertidos diálogos os traços da acidez do cineasta e se deliciar com sua sempre presente crítica irônicaàs convenções ligadas aos relacionamentos humanos.
“Vicky Cristina Barcelona” chega bem perto de “Match Point” não só pela qualidade mas pelo frescor com que o roteiro é filmado: Allen levou para os belos cenários de Barcelona – ainda que a Barcelona de cartão postal – uma história desta vez bem mais para o romântico, com uma sensualidade muito bem retratada pelo excelente elenco, e pitadas de humor mas também de dor, em meio a inevitáveis questionamentos morais – tanto dos personagens quanto do público.
Woody nos proporciona uma história leve e divertida que não tem pretensão de ser profunda, complexa ou algo do tipo, simplesmente lidando com as dificuldades, delícias e improbabilidades dos relacionamentos. Vicky Cristina Barcelona é um filme para quem gosta do estilo sarcástico do diretor e que corresponde certamente aos fãs que têm a oportunidade de se identificar e rir com as situações criadas pelo comediante - que há quase 40 anos contribui com sua genialidade para o mundo da sétima arte.
Detalhe para a trilha sonora: Adorável!

08 setembro 2009

Ouça: Trois Gymnopedies - Erik Satie

http://www.youtube.com/watch?v=ljiKS0ry7tA&mode=related&search=

Filme: Ensaio sobre a cegueira


O surto de cegueira que afeta uma cidade fictícia com pessoas que não são caracterizadas por seus nomes, traz em pauta a questão dos valores que os temos conosco e com o próximo, digo isso, pois me pergunto até que ponto você se aproveitaria de pessoas que estão em um estado físico de desvantagem frente à sua e como pessoas que estão no mesmo estado que você tenta se aproveitar da massa, através de corrupção e favores sexuais.
O diretor rodou o filme em países diferentes para criar a cidade que José Saramago descreveu no livro Ensaio sobre a Cegueira, Brasil com a sua mega capital São Paulo estava lá ajudando a montar o cenário, junto com o Japão que trouxe varias ruas de Tóquio para incrementar o ambiente do filme. Você fica se perguntando: Como é que conseguiram fazer isso na Rua Augusta, Marginal Pinheiros, Catedral da Sé?
Julianne Moore como atriz principal está sensacional como esposa do médico (Mark Ruffalo), a única que não se contagia com a cegueira, vai para quarentena fingindo estar cega. Ela vê o caos que o lugar fica depois de estar super-populado, os problemas de limpeza, escassez de comida, etc.
O surto de cegueira que afeta uma cidade fictícia com pessoas que não são caracterizadas por seus nomes, traz em pauta a questão dos valores que os temos conosco e com o próximo, digo isso, pois me pergunto até que ponto você se aproveitaria de pessoas que estão em um estado físico de desvantagem frente à sua e como pessoas que estão no mesmo estado que você tenta se aproveitar da massa, através de corrupção e favores sexuais.
Meirelles fez um excelente trabalho, um filme que mexe com os sentidos daqueles que enxergam.
Não se deixem enganar por qualquer desprestígio quanto ao trabalho do elenco. Julianne está mais uma vez maravilhosa, uma das grandes atrizes do nosso tempo. Alice Braga é a grande surpresa, com uma atuação forte e madura. E Gael está mais uma vez excelente no papel de vilão.
Assistam ao filme sem medo, principalmente se já leram o livro. Se não leram, tentem não se incomodar com detalhes que foram muito criticados mas são fiéis e justificáveis, como a ausência de nomes dos personagens, a localização incerta das cenas, entre outras minúcias que são importantes para o livro e para o filme, não podendo ser de outra forma.

03 setembro 2009

Filme: Olhar estrangeiro

“Olhar estrangeiro é um filme sobre os clichês e as fantasias que se avolumam mundo afora sobre o Brasil. Baseado no livro O Brasil dos gringos, de Tunico Amancio, o documentário mostra a visão que o cinema mundial tem do país. Filmado na França (Lyon e Paris), Suécia (Estocolmo) e Estados Unidos (Nova York e Los Angeles), o filme desvenda os mecanismos que produzem esses clichês através de entrevistas com os diretores, roteiristas e atores”.
O ritmo do filme é ótimo, com a exibição de cenas das películas que de alguma forma retrataram o Brasil sob o ponto de vista estrangeiro, sob a ótica do clichê. Estas cenas são clarificadas, como diz a sinopse, por entrevistas com diretores, roteiristas produtores e atores e pontuadas com depoimentos de gringos anônimos sobre como vêem o Brasil.
O filme chega a um ápice com o depoimento de um gringo, provavelmente de um “afro-norte-americano”, que mostrou possuir algum conhecimento sobre nossa Pátria Amada. O que eu sei do Brasil? Sei que não entendo os brasileiros: acontece de tudo no país de vocês e vocês não fazem nada, ficam com cara de bunda, sem tomar atitude. Quero ver o dia em que vocês vão mudar as coisas lá...Interessante, não?

Filme: Piaf - Um Hino ao Amor

Prepare seus lenços. É praticamente impossível não derramar pelo menos algumas lágrimas durante os 140 minutos de projeção de Piaf - Um Hino ao Amor, a festejada cinebiografia da cantora francesa Edith Piaf. O filme é rasgadamente emotivo e emocional, atingindo em cheio o grande público, da mesma forma emotiva e emocional que a própria cantora tinha de conquistar as suas platéias. E importante: sem cair no piegas. Ambicioso, ousa retratar a vida da estrela por inteiro. A partir de seus primeiros e extremamente pobres anos de vida, passando por suas perambulações por cabarés e prostíbulos, a descoberta do talento natural, a lapidação deste talento, o sucesso, a ida aos Estados Unidos (numa Nova York totalmente feita em estúdio), os amores, sua trajetória marcada por perdas e desacertos, justifica cada copo que tomava e que lhe roubaria o fígado e a mataria de falência hepática, agravada por anos de dependência química aos 47 anos, isso em 1963.
Marion Cotillard se agiganta como Piaf, estoura na tela grande e nos brinda com uma interpretação impagável e incontestável de uma artista que nunca se enquadrou, viveu solta num sistema que a acolheu, graças ao dom de cantar, concedido pelos deuses.
O filme no conecta com a utópica e necessária visão do artista que foi consumida pela arte e fez dela seu alimento. Para ter em casa e rever, assim não esqueceremos os predicados que compõe o “forro” de uma grande artista. Edith Piaf – Um Hino ao Amor é inesquecível.

Pablo Neruda: Llénate de mi

Llénate de mí. Ansíame, agótame, viérteme, sacrifícame. Pídeme. Recógeme, contiéneme, ocúltame. Quiero ser de alguien, quiero ser tuyo, es tu hora. Soy el que pasó saltando sobre las cosas, el fugante, el doliente. Pero siento tu hora, la hora de que mi vida gote e sobre tu alma, la hora de las ternuras que no derramé nunca, la hora de los silencios que no tienen palabras, tu hora, aIba de sangre que me nutrió de angustias, tu hora, medianoche que me fue solitaria. Libértame de mí. Quiero salir de mi alma. Yo soy esto que gime, esto que arde, esto que sufre. Yo soy esto que ataca, esto que aúlla, esto que canta. No, no quiero ser esto. Ayúdame a romper estas puertas inmensas. Con tus hombros de seda desentierra estas anclas. Así crucificaron mi dolor una tarde. Libértame de mí. Quiero salir de mi alma. Quiero no tener límites y alzarme hacia aquel astro. Mi corazón no debe callar hoy o mañana. Debe participar de lo que toca, debe ser de metales, de raíces, de alas. No puedo ser la piedra que se alza y que no vuelve, no puedo ser la sombra que se deshace y pasa. No, no puede ser, no puede ser, no puede ser. Entonces gritaría, lloraría, gemiría. No puede ser, no puede ser. Quién iba a romper esta vibración de mis alas? Quién iba a exterminarme? Qué designio, qué palabra? No puede ser, no puede ser, no puede ser. Libértame de mí. Quiero salir de mi alma. Porque tú eres mi ruta. Te forjé en lucha viva. De mi pelea oscura contra mí mismo, fuiste. Tienes de mí ese sello de avidez no saciada. Desde que yo los miro tus ojos son más tristes. Vamos juntos, rompamos este camino juntos. Será la ruta tuya. Pasa. Déjame irme.
Ansíame, agótame, viérteme, sacrifícame. Haz tambalear los cercos de mis últimos límites.Y que yo pueda, al fin, correr en fuga loca, inundando las tierras como un río terrible, desatando estos nudos, ah Dios mío, estos nudos destrozando, quemando, arrasando como una lava loca lo que existe, correr fuera de mí mismo, perdidamente, libre de mí, furiosamente libre. Irme, Dios mío, irme!

01 setembro 2009

Livro: Enfim, juntos! (Anna Gavalda)

Enfim, Juntos, conta a história do encontro de quatro destinos: Camille, que em vez de viver a sua paixão pelo desenho trabalha como empregada doméstica; Philibert, aristocrata que alberga Franck, um cozinheiro cuja existência anda à volta das raparigas, da moto e de Paulette e da sua avó, uma velha senhora, frágil e meiga que vive só. A acção desenrola-se em Paris ao pé da Torre Eiffel, durante um ano. O livro conta o encontro, as fricções, a ternura, a amizade, as zangas e as reconciliações destas quatro pessoas. Gente que, à partida, não tinha nada em comum e que poderia nunca se ter encontrado, pessoas que se apoiam mutuamente e que em vez de cair se levantam. A isto chama-se amor. O filme verei em breve!

Virgínia Wolf - O tempo e o espírito

O tempo, embora faça desabrochar e definhar animais e plantas com assombrosa pontualidade, não tem sobre a alma do homem efeitos tão simples. A alma do homem, aliás, age de forma igualmente estranha sobre o corpo do tempo. Uma hora, alojada no bizarro elemento do espírito humano, pode valer cinquenta ou cem vezes mais que a sua duração medida pelo relógio; em contrapartida, uma hora pode ser fielmente representada no mostrador do espírito por um segundo.

Filme: O Caminho para Guantánamo

No documentário Caminho para Guantánamo (The Road to Guantanamo) de Michael Winterbottom, Inglaterra, 2006. O diretor trabalha com depoimentos de três jovens britânicos que ficaram anos presos, acusados de terrorismo pelos EUA, quando esses em represália ao 11 de setembro atacaram o Afeganistão. A ida dos jovens para o Paquistão foi motivada pelo casamento de um deles mas ao chegarem são estimulados por um líder religioso, a irem até o Afeganistão para prestar ajuda humanitária, quando são presos.
No filme vemos os próprios americanos agindo como animais, maltratando, mentindo e humilhando prisioneiros afegãos e paquistaneses nos campos de concentração na região de Cuba que dá nome ao filme.
Três desses prisioneiros e amigos entre si, londrinos, porém muçulmanos, contam sua história sobre a viagem que acaba muito mal quando são confundidos com membros da Al-Quaeda.
Os personagens reais narram, enquanto a reconstituição extremamente realista é feita por atores. As situações são desesperadoras. Isso sim é uma viagem ao inferno.. É um filme imperdível. Após assistirmos passamos a nos questionar como é possível o imenso silêncio que se faz desse tema no nosso país.

Botticelli, Sandro - Anadyomene Venus


Filme: The King (Com Gael Garcia Bernal)

Quem procura um longa de ação, não irá gostar deste longa, mas quem procura algo diferente e bem trabalhado em todos os quesitos, está dada a sugestão "The King" de James Marsh.
Gael, com um inglês perfeito e sem sotaque algum, interpreta o bom moço Elvis que, após ser dispensado da Marinha norte-americana, volta à casa na busca do pai que nunca conheceu.
Para tanto ele viaja até a pequena cidade de Corpus Christi, no interior do Texas, onde encontra o pastor evangélico David Sandow (William Hurt), que é extremamente conservador. Elvis quer que David o reconheça como seu filho, o que é recusado pelo pastor, que alega ter agora uma nova família. Na cidade ele conhece Malerie (Pell James), uma jovem de 17 anos, que é sua meia-irmã, por quem se apaixona.
Daí em diante o filme faria até o cineasta britânico Alfred Joseph Hitchcock levantar-se do sepulcro e aplaudir de pé. The King se tornou um título forte e boníssimo em diálogos e planos seqüênciais "quase" longos e, lembrei-me novamente de Hitchcock nos planos gerais usados neste longa, usufruindo de uma insigne trilha sonora.

Filme: Ônibus 174

Onibus 174, é uma expécie de documentário sobre os acontecimentos em torno do sequestro de um ônibus no Rio de Janeiro, ocorrido em 12 de junho de 2000. O incidente, foi filmado e transmitido ao vivo por quatro horas, paralisando o país.
A história do seqüestro é contada paralelamente à história de vida do seqüestrador, intercalando imagens da ocorrência policial feitas pela televisão. É revelado como um típico menino de rua carioca transforma-se em bandido e as duas narrativas dialogam, formando um discurso que transcende a ambas e mostrando ao espectador porque o Brasil é um país é tão violento.
Baseado numa extensa pesquisa sobre a cobertura do crime, com entrevistas e documentos oficiais, o filme é uma investigação cuidadosa do seqüestro - focalizando Sandro do Nascimento, sua infância, e como ele inevitavelmente estava destinado a se tornar um bandido.

Filme: Questão de vida

Questão de Vida, podia muito bem ser um filme de Pedro Almodóvar, já que a temática trabalhada é essencialmente feminina. Dirigida por Rodrigo García (que dirigiu alguns episódios do seriado Six Feet Under), essa desconhecida produção é um conjunto de curtas (nove ao todo) com apenas uma característica em comum: o universo feminino. São 9 histórias intimistas sobre os sentimentos das mulheres. Elas são representadas de forma bem especiais por um notável elenco de estrelas. O destaque é de Robin Wright Penn, excepcional no melhor curta do filme. Com certeza é um filme de arte para um público limitado. De qualquer forma, o maravilhoso elenco valida a espiada – mesmo que eles não estejam magníficos como os seus pesados nomes sugerem – e Questão de Vida acaba por ser, no mínimo, uma experiência interessante.

Filme: O caminho para casa

Yimou talvez seja, visualmente, o mais complexo e competente artesão do cinema. Seus filmes, sem exceção, são um deleite para os olhos. Tem que ser muito bom para fazer um dos mais tocantes e emocionantes romances da última década sem que haja, em nenhum momento do filme, um único beijo. Não é para poucos. E mesmo sem o beijo, sem o toque, sem os finalmentes que muitos cineastas acabam adiando ao máximo para provocar uma catarse, “O Caminho Para Casa” transborda romantismo em seus poros. É uma visão idealizada, ingênua até, um amor pueril. Emocionante nas mãos de um mestre da narrativa visual como Zhang Yimou.
O romance que conduz essa estória atemporal – e sem nacionalidade ou língua – não se concretiza no contato entre os corpos: ela emociona pela devoção através dos dias, das tempestades, da solidão, da espera constante. Se resume no desespero em encontrar um objeto perdido pelo caminho, em reconstruir uma singela vasilha de comida com um significado especial. O presente é apresentado em preto e branco, e a estória que ele busca no passado é convertida em cores esfuziantes – traduz a riqueza de sentidos a nostalgia preservada, a alegria em contrapartida à tristeza do tempo presente.Zhang Yimou fala uma língua universal que tem um apelo maior para quem já viveu ou sonha viver um grande amor. “O Caminho para Casa” é a sua declaração de amor, belíssima, a essa simples possibilidade.

Arthur Schopenhauer - Indulgência com os Outros

Para sobreviver por este mundo afora, é conveniente levar consigo uma grande provisão de precaução e indulgência. Pela primeira seremos protegidos de danos e perdas, pela segunda, de disputas e querelas. Quem tem de viver entre os homens não deve condenar, de maneira incondicionada, individualidade alguma, nem mesmo a pior, a mais mesquinha ou a mais ridícula, pois ela foi definitivamente estabelecida e ofertada pela natureza. Deve-se, antes, tomá-la como algo imutável que, em virtude de um princípio eterno e metafísico, tem de ser como é. Quanto aos casos mais lamentáveis, deve-se pensar: «É preciso que haja também tais tipos no mundo.» Do contrário, comete-se uma injustiça e desafia-se o outro a uma guerra de vida ou morte, já que ninguém pode mudar a sua própria individualidade, isto é, o seu carácter moral, as suas faculdades de conhecimento, o seu temperamento, a sua fisionomia, etc. Ora, se condenarmos o outro em toda a sua essência, então nada lhe restará a não ser combater em nós um inimigo mortal, pois só lhe reconhecemos o direito de existir sob a condição de tornar-se uma pessoa diferente da que invariavelmente é. Portanto, para vivermos entre os homens, temos de deixar cada um existir como é, aceitando-o na sua individualidade ofertada pela natureza, não importando qual seja. Precisamos apenas de estar atentos para a utilizar de acordo com o permitido pelo seu género e pela sua condição, sem esperar que mude e sem condená-la pura e simplesmente pelo que ela é. Eis o verdadeiro sentido do provérbio: "Viver e deixar viver". A tarefa, contudo, não é tão fácil quanto justa; feliz é quem pode evitar para sempre certas individualidades. Para aprender a suportar os homens, deve-se praticar a própria paciência em relação a objectos inanimados, os quais, em virtude de uma necessidade mecânica ou de qualquer outra necessidade física, resistem tenazmente à nossa acção. Para tal exercício, há oportunidade diária.

Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'

Livro: Contos Fantásticos (Guy de Maupassant)

Guy de Maupassant (1850-1893) não foi simplesmente um dos mais brilhantes escritores do seu século, mas o mais completo contista de todos os tempos. Alguns de seus temas presentes nos contos reunidos neste volume são clássicos na literatura fantástica: a reencarnação, a aparição fantasmática, o acontecimento extraordinário. Não se trata de criaturas impossíveis (duendes, gênios ou demônios) em cenários exóticos, mas acontecimentos estranhos que se equilibram nesta tensão que se origina de um espírito incerto: o homem aparece como um ser estranho a si mesmo e o outro como um abismo. Maupassant publicou 27 livros em dez anos, dos quais muitos críticos consideram O Horla sua obra-prima. Famoso em seu tempo, viveu prosperamente numa vida quase luxuosa. Não desprezou o uso do álcool e de paraísos artificiais que lhe estimularam e excitaram seu cérebro, permitindo-lhe escrever em ritmo crescente. Em seus últimos anos de vida foi vítima constante de alucinações, tendo inclusive tentado suicídio. Morreu no manicômio de Passy, na França.