31 agosto 2009

Filme: Casa de areia e névoa

Casa de Areia e Névoa” enfoca a batalha de duas pessoas comuns por uma casa. O título do filme é uma beleza de múltiplos sentidos. A casa é de areia e névoa, na metáfora mais óbvia, porque fica na praia de San Francisco, onde a neblina cobre tudo nos dias frios. Mas existe um sentido mais profundo. Areia e névoa são elementos intangíveis, que não se pode possuir, pois escapam entre os dedos. A casa é a chave da narrativa. Ela não passa de um bangalô modesto, mas representa mais do que simples moradia para os dois personagens. Para Kathy, a casa é a única ligação entre ela e a família, que ela tanto ama e que se mantém tão distante. Suas memórias moram lá. Um pedaço de sua alma se vai, quando é obrigada a deixar o lugar.
Para Behrani, é claro, a cabana não evoca nenhum laço afetivo, mas também é um símbolo poderoso. O coronel reformado a elege como o primeiro passo para deixar os subempregos e proporcionar à mulher e ao filho adolescente um padrão de vida mais digno. A vista para o mar, mesmo que longínqua, também lhe traz à memória um passado feliz – a casa de verão da família, que dava para o mar Cáspio. Por isso, Behrani não hesita em gastar alguns milhares de dólares construindo um terraço com vista para o oceano, mesmo sabendo que não vai permanecer o suficiente no lugar para desfrutar dela. os personagens precisam, a todo instante, tomar decisões moralmente difíceis. Aqui, não há vilões ou mocinhos, mas apenas pessoas de carne e osso, com dilemas morais, pessoais e profissionais. O roteiro de Perelman e Shawn Otto é excepcional. O texto conduz a ação sem jamais apelar para o piegas ou recorrer a clichês; os diálogos são ambíguos, serenos e profundos. O cineasta também teve o bom senso de fazer um filme sem malabarismos técnicos, de modo a deixar a platéia 100% envolvida com o drama humano que se desenrola na tela.

Filme: Pelo amor de Deus! (Com Audrey Tatou)

Esta comédia foi protagonizada por Audrey Tautou em 2001, antes dela se tornar famosa mundialmente em O Fabuloso Destino de Amelie Poulain , lançado no mesmo ano, mas com muito maior impacto. O filme narra a divertida história de Michèle, uma garota de 20 anos que está arrasada por ter terminado com seu namorado. É quando ela conhece Francois, um vegetariano e judeu. Apaixonada, Michèle decide converter-se ao judaísmo porque ela tem de acreditar em algo ou pelo menos em alguém. Entre idas e voltas Michele descobre que nem sempre a fé remove montanhas e mantém namoros. Seja com quem for.

Filme: Uma jornada de esperança (Beat the drum)

Uma jornada de esperança sofre, como Tsotsi, de primarismo: personagens só estão ali como representantes rasos de um estrato social (a criança inocente, o negro potencialmente aidético, o branco amigo, o branco insensível), a mensagem é maior do que o filme em si. Edificante, com certeza, mas é o tipo de filme feito para encerrar um seminário de prevenção à AIDS. Prostituição é igual em qualquer beira de estrada do mundo - mas na África do Sul existe o agravante da AIDS. Na vila de Musa, onde qualquer anormalidade é tido como desígnio divino, a doença está presente mas ninguém vê. O fato de haver pessoas que desconhecem a realidade da África do Sul, mesmo dentro do próprio país, é o que justifica a existência de Uma jornada de esperança.

Filme: O preço da vida (Quando Se Nasce, Já Não Pode Mais Se Esconder)

Dirigido pelo italiano Marco Tulio Giordana, "Quando Se Nasce, Já Não Pode Mais Se Esconder" é um drama sóbrio que conta a história de Sandro, um menino rico de 12 anos que acompanha o pai e um amigo num cruzeiro de barco pelo Mediterrâneo. No meio da noite, quando os dois adultos estão distraídos, o garoto cai ao mar e quase se afoga. É resgatado posteriormente por uma embarcação, tornando-se mais um integrante da população de um verdadeiro navio negreiro dos tempos modernos, repleto de imigrantes ilegais de todas as procedências. Gente em busca de uma nova oportunidade que é explorada por europeus e submetida a condições subumanas. Quando finalmente o menino retorna à sua família, procura fazer com que os pais adotem o rapaz que o ajudou e sua irmã. A partir daí, coloca-se o conflito entre os imigrantes e os seus anfitriões, divididos por necessidades muito diferentes. Detalhe importantíssimo no filme abordando a prostituição infantil.

Filme: Batismo de Sangue

São Paulo, fim dos anos 60. O convento dos frades dominicanos torna-se uma trincheira de resistência à ditadura militar que governa o Brasil. Movidos por ideais cristãos, os freis Tito (Caio Blat), Betto (Daniel de Oliveira), Oswaldo (Ângelo Antônio), Fernando (Léo Quintão) e Ivo (Odilon Esteves) passam a apoiar o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional, comandado por Carlos Marighella (Marku Ribas). Eles logo passam a ser vigiados pela polícia e posteriormente são presos, passando por terríveis torturas.
Batismo de Sangue se tornou um filme obrigatório para aqueles que pretendem conhecer um pouco sobre este sombrio período de nossa história recente. Se vivemos hoje numa democracia, muito devemos a esses jovens idealistas que não tiveram medo de enfrentar seus opressores e lutar pela liberdade. Existem falhas no atual processo democrático, é evidente, mas que todos, principalmente as gerações mais jovens, tenham sempre em mente que a pior das democracias é preferível à melhor das ditaduras.

Filme: Edukators

Não são apenas os personagens Daniel Bruhl e Julia Jentsch de The Edukators (Die Fetten Jahre sind vorbei, Alemanha, 2004) e suas idéias que são jovens. Tudo no filme cheira a juventude. Das imagens em digital, feitas quase inteiramente com uma inquieta câmera na mão, à trilha sonora (a versão de Jeff Buckley para Hallelujah, de Leonard Cohen, "gruda" na cabeça do espectador). As discussões que surgem entre os seqüestradores idealistas e o refém milionário jogam de maneira bastante interessante com o conflito de gerações. O filme é o segundo longa de Hans Weingartner e foi selecionado para competição no Festival de Cannes.
Com um roteiro nada previsível, atuações incomparáveis, trilha sonora rica e com um final espetacular e infalível, Hans Weingartner mostra a força do cinema alemão contemporâneo.
The Edukators, cada um tira sua mensagem, que será provavelmente aquela que lhe for mais cômoda. Para isso, o filme deixa margem a duas interpretações. A primeira, é a de que o tempo passa, os ideais morrem, e as boas idéias e convicções se vão junto com a juventude. A segunda nos lembra, no entanto, que os únicos que podem mudar o mundo são aqueles que realmente acreditam que isto seja possível e tentam fazer alguma coisa a respeito. Qual será a sua forma de interpretar?

Filme: O amor pode dar certo (Griffin & Phoenix)

Griffin (Dermot Mulroney, de O Casamento do Meu Melhor Amigo ) descobre que tem um câncer em estágio terminal. Após um breve instante de perplexidade, ele decide não contar a notícia para ninguém e viver seus últimos momentos com alegria e dignidade, na medida do possível. Griffin conhece a bela Sarah Phoenix (Amanda Peet, de Syriana – A Indústria do Petróleo ), se apaixona por ela e passa a viver um dilema – literalmente – de vida ou morte: ele teria o direito de entrar na vida de uma pessoa, mesmo sabendo que a morte está próxima? Por outro lado, Sarah também tem algo a esconder, o que não deve ser dito aqui para não estragar a história.

30 agosto 2009

Filme: Todo sobre mi madre (Pedro Almodóvar)

Almodóvar elaborou uma homenagem pra lá de especial à tão aprazível relação mãe e filho. Criou uma teia de afeto e agonia mútua, como se o vínculo binário pudesse se estender, como se os laços de sangue não fossem mais obrigatórios. Ao longo de um roteiro tragicômico, distribuiu toda a sorte de mães, de mulheres, de seres humanos. Manuela (Cecilia Roth) é a soma de todas. É ela que, em determinada hora, toma conta das demais personagens como se fossem suas próprias crias, mesmo não sendo. Espantoso imaginar como Pedro Almodóvar, sendo um homem, conseguiu (e consegue) observar tão profundamente a sensibilidade do universo feminino. O travesti Agrado (e até mesmo Lola) servem para demonstrar que, para o autor, a feminilidade está na atitute, transcendendo a questão física.
Agrado (o transformista Antonia San Juan), carrega todos os elementos cômicos do filme praticamente sozinho!

Fiodor Dostoievski - A desgraça do sonhador

E vocês sabem o que é um sonhador, cavalheiros? É um pecado personificado, uma tragédia misteriosa, escura e selvagem, com todos os seus horrores frenéticos, catástrofes, devaneios e fins infelizes... um sonhador é sempre um tipo difícil de pessoa porque ele é enormemente imprevisível: umas vezes muito alegre, às vezes muito triste, às vezes rude, noutras muito compreensivo e enternecedor, num momento um egoísta e noutro capaz dos mais honoráveis sentimentos... não é uma vida assim uma tragédia? Não é isto um pecado, um horror? Não é uma caricatura? E não somos todos mais ou menos sonhadores?
Fiodor Dostoievski, in "Escritos Ocasionais"

29 agosto 2009

Filme: Amor à flor da pele (Wong Kar-Wai)

Amor à Flor da Pele é estupendo. Muitos críticos têm considerado o melhor trabalho de Wong Kar-wai.. Um dos mais proeminentes diretores de Hong Kong, conseguiu criar uma obra delicada e arrebatadora, em que mais uma vez faz, de maneira exemplar, o universal emergir do particular. A obra de Wong Kar-Wai versa sobre uma história de romance não-convencional. E é contada com um enorme cuidado estilístico; a música, a câmera lenta, as mãos ora afastadas ora em intenso afago, a fumaça. Tamanha qualidade estética poderia ser questionada se não caminhasse junto de uma bela história, se não fosse utilizada como aliada na narrativa. Mas não é o caso. Todas essas variáveis se juntam para realizar um produto final de alto nível. A beleza do filme está na maneira como Wong consegue manipular as imagens e os sons, criando uma obra única.

Filme: Antes do anoitecer (Before Sunset)

Nove anos se passaram desde Antes do Amanhecer. Jesse escreveu um livro sobre essa romântica noite há muito distante, ficionalizando as suas memórias num best-seller. Na livraria Shakespeare & Co., última passagem para promover o livro em Paris, Jesse reencontra Celine. Ele vai regressar a Nova Iorque nessa noite e decidem aproveitar ao máximo as poucas horas que podem estar juntos.Numa jornada estimulante e reveladora pelas ruas de Paris, em que falam sobre a globalização e os relações entre pessoas, as memórias e os arrependimentos, Jesse e Celine exploram as profundezas dos seus sentimentos e redescobrem esse raro amor pelo inesperado, o expontâneo e um pelo outro. Eles precisam de saber: o que aconteceu no seu primeiro encontro foi real ou, com a passagem do tempo, apenas idealizado? O que essa noite significou para cada um deles? Que marca deixou o encontro falhado de 16 de Dezembro? O que se passou ao longo dos últimos nove anos? Têm pouco mais de uma hora para o descobrir. Para recuperar o tempo perdido. Para revelarem-se. Para perceber o que podia ter sido. E ver o que acontece.

Filme: Antes do amanhecer (Before Sunrise)

"Antes do amanhecer" é um filme que encanta por ser um romance diferente, apostando não em clichês mas sim numa série de discussões sobre os mais diversos assuntos, que flui muito bem na história. É daqueles filmes que de início você não espera muito, mas que aos poucos e lentamente acaba te conquistando. Vários dos debates levantados no filme são realmente intrigante e te fazem pensar sobre o assunto, mesmo após o término do filme. Além disto Ethan Hawke e Julie Delpy estão muito bem. Um ótimo filme, que diverte e ainda faz pensar e fez pensar... quais as oporunidades que eu ja possa ter perdido... quais eu posso vir a perder, qual eu vou aproveitar...."
Foi um filme apreciado pela crítica, mas pouco visto na sua estreia. Porém, a promessa da juventude, em que duas pessoas estranhas podem deixar um trem, conhecer uma cidade e esperimentar o inesperado numa noite a falar de tudo até perceberem que, afinal, descobriam a sua alma gêmea, tem vindo a ser descoberta pelos espectadores desde então. Um filme descrito pelo seu realizador como "um romance para realistas" deixou, afinal, muitos dos que o viram a fazer uma pergunta: será que eles se reencontraram seis meses mais tarde?

Filme: Jogo de sedução (Dot the I) Com Gael Garcia Bernal


O filme é repleto de boas atuações, Gael García Bernal, cada vez mais consolidado como bom ator, destaque especial para James D’Arcy que deu um show de interpretação, tanto que me deixava com raiva do personagem. A atriz Natalia Verbeke,além de linda também não fez feio. Jogo de Sedução possui uma boa trama, um bom roteiro, e algumas vezes chega a ser tenso, outras da um embrulho no estômago, ora tira boas risadas. O que parece ser um drama romântico acaba se tornando um suspense. E depois um drama. E um suspense novamente. Confuso? Você ainda não viu nada. É perceptível o esforço do diretor estreante Matthew Parkhill em fazer um filme inventivo e surpreendente.

Filme: Um longo dia de noivado ( Com Audrey Tatou)

Jean-Pierre Jeunet volta a trabalhar com Audrey Tautou depois de "O Fabuloso Destino de Amélie". Tal como em Amélie, este filme parece passado numa outra dimensão. É difícil explicar o porquê, mas o mundo dos filmes de Jeunet parece sempre mais vivo, mais vibrante que o mundo real, as suas personagens transbordam energia, e mesmo sendo muitas vezes caricaturadas, são sempre incrivelmente densas e complexas.
Num cenário contrastante, a 1ª Grande Guerra, Jeunet apresenta-nos a fragilidade e a ternura de uma jovem debilitada fisicamente, em contraste contínuo com as agruras e a agressividade de um conflito em ebulição. Fotograficamente o filme é soberbo, as imagens são impregnadas de uma colorida poesia visual, que paradoxalmente embelezam a atmosfera de uma guerra, que se sabe, devastadora.

Filme: Quero ser John Malkovich

Por mais que se tente resumir a trama de Quero Ser John Malkovich em alguns parágrafos, a tarefa revela-se impossível. O roteiro é tão repleto de revelações e reviravoltas que, em certo momento, as surpresas transformam-se em meros preâmbulos para as seguintes. Em certo momento, para se ter uma idéia, o próprio Malkovich atravessa o portal que conduz para o interior de sua mente - e o que ele vê é uma das melhores seqüências do filme. É realmente impressionante que um roteiro complexo e arrojado como o de Quero Ser John Malkovich tenha encontrado meios de chegar às telas, já que várias coisas poderiam ter dado errado no processo principalmente o excesso de inteligência (sempre um perigo em Hollywood).
O filme mais maluco que eu já vi, resultado de um roteiro totalmente insano e imprevisível, situações absurdas (e hilárias) e atuações igualmente absurdas (e igualmente hilárias). É uma pérola do cinema, um primor de roteiro e originalidade.
Quando você acha que o estoque de loucuras acabou, Spike Jonze descarrega mais um monte, deixando o espectador zonzo de tantas reviravoltas contidas no roteiro. Com certeza, a parte mais hilária do filme é quando John Malkovich entra em sua própria mente, e vê um mundo habitado somente por John Malkovich.
Além de todas essas situações incríveis, o filme ainda dá início à uma inteligente dicussão: e se você pudesse ser outra pessoa?

Filme: El Bufalo de la noche (Guillermo Arriága)

Parte da nova geração mexicana está aqui em ação. Arriaga e Aldana, no roteiro e direção; Diego Luna no elenco.
Gregorio é um jovem esquizofrênico de 22 anos, perdidamente apaixonado por Tania (Liz Gallardo) e que tem em Manuel (Diego Luna) um grande amigo. Enquanto Gregorio entra e sai de hospitais psiquiátricos, Tania e Manuel vivem um romance às escondidas. Quando Tania decide romper com Gregorio e ficar com Manuel, a amizade entre eles também é rompida. Tempos depois os médicos dão alta a Gregorio, o que faz com que Manuel tente se reconciliar com ele. Aparentemente o reencontro ocorre sem problemas, mas dois dias depois Gregorio se suicida, dando um tiro na cabeça. Tânia e Manuel recebem a estranha herança deixada por Gregório, uma caixa contendo fotos e cartas. E que dá início à trip na qual culpa e loucura não deixam de se misturar em coquetel explosivo.

Filme: Quando Nietzsche chorou

Nietzsche, é um dos maiores gênios da história da humanidade, Breuer não foge muito disso e quanto a Freud, bom , isso todo mundo já sabe.
Na Viena do século 19, o médico Josef Breuer (Ben Cross) conhece o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (Armand Assante), pois o intelectual está passando por grave crise de enxaqueca e tem tendência suicida. Como não quer ser ajudado porque seus livros não são reconhecidos e, portanto, não tem dinheiro para pagar o tratamento, os dois fazem um trato. Com ajuda de seu estagiário, o psicanalista Sigmund Freud (Jamie Elman), Josef tenta ajudar e ser ajudado por Nietzsche e utiliza a "terapia através da fala". O filme apresenta uma história dramática, que fará o espectador conhecer mais da psicanálise e, quem sabe, se emocionar pelo mesmo motivo que fez Nietzsche chorar.

Filme: Vênus

Girl put your records on de Corine Bailey Rae é o carro chefe da trilha sonora do filme. O diretor Roger Michell dá dignidade ao tema, que poderia descambar para o mau gosto nas mãos de um cineasta menos sutil. E como já é costume nas produções britânicas, o desempenho do elenco é um capítulo à parte, com destaque para Peter O'Toole, que faz a platéia acreditar que ele tenha muito mais que seus atuais 74 anos. Não por acaso, o papel rendeu ao veterano ator Peter O’Toole sua oitava indicação ao Oscar. Ele é a alma do filme, tudo dele parte e tudo para ele converge. Mas a garota indesejada por todos - e só querida por ele, para quem tudo está indo para o fim - também é vivida por uma excelente atriz jovem, Jodie Whitaker. E a presença de Vanessa Redgrave como a ex-mulher de Maurice torna o filme ainda mais pungente, mostrando-a também idosa, mas magnífica. É para guardar nas retinas a imagem de o´Toole e Philips dançando na igreja. E a cena em que a garota autoriza que ele toque ao menos a sua mão. E de cenas sensíveis assim o filme está repleto. Vale a pena conhecer esse belo trabalho do diretor Roger Mitchell. Vênus é um filme comovente por tratar da velhice sem máscaras. O clichê de que juventude é um estado de espírito é desmentido pelo realismo do filme, que, a despeito disso, não é cruel. Ao contrário - é um filme carinhoso, que jamais deixa de tratar com dignidade e compaixão seus personagens, uma dignidade e uma compaixão que não exclui os aspectos terríveis, as dores, as mazelas dos idosos. Vemos Peter o´Toole como Maurice e Leslie Philips como Ian no auge de seu talento. Podemos estar vendo-os pela última vez, devido à idade em que se encontram, mas nada disso impede que os vejamos como verdadeiros símbolos da melhor arte dramática inglesa.

Filme: Desejos de liberdade (Provoked)

Uma bola de neve de tragédias vai acertar em cheio a vida de Kiranjit Ahluwalia. Ao se casar com Deepak, ela imagina ter encontrado o homem de sua vida. Mas ele, aos poucos, começa a mudar de comportamento, dedicando-se à bebida e a outras mulheres. Não demora para começar a espancar a esposa, que acaba por matá-lo. Acusada de ter premeditado o crime, ela terá de recorrer à ajuda de uma Ong especializada em vítimas de violência doméstica, para provar inocência. Em momento algum o filme absolve Kiranjit de ter matado seu marido, apenas abraça as inúmeras mulheres que sofrem com a violência de homens que juraram amor eterno. Já no final, Kiranjit diz que são as mães quem criam seus filhos, então cabe a elas ensinar o respeito às mulheres. A mãe de Deepak testemunhou os ataques do filho, mas em julgamento, desmentiu as acusações da nora.
Apesar da história forte, Provoked é um filme mediano. Assemelha-se muito aos filmes feitos para a televisão. Alguns diálogos são artificiais, há redundância em certas cenas e sempre foca os grandes olhos verdes de Aishwarya (o que não é tão ruim assim), contudo vale assistir. Seja por ser um relato inspirador, seja para nos lembrar que alguém próximo pode estar sofrendo as mesmas coisas.

Filme: Amores Brutos (Alejandro Gonzáles Iñárritu)

Amores Brutos iniciou uma trilogia de brilho e confirma a hipótese de que raros são os mestres que conseguem repetir a grandiosidade da obra-prima. Alejandro Gonzáles Iñárritu é um cineasta mexicano de 45 anos. Foi descoberto em 2000, com a produção de Amores Brutos (Amores Perros), um filme – com o perdão da simplificação – sobre a perda, os amores, a esperança e os problemas nos relacionamentos. O sucesso surpreendeu: era uma produção latina, com atores latinos e recursos latinos e, ainda assim, ganhou a crítica e o público internacional. A partir daí, Iñárritu virou destaque dos grandes jornais e das semanais norte-americanas e conquistou o bilhete de entrada para Hollywood.
No entroncamento das vidas dos personagens, fica evidente a relação entre pessoas de realidades sociais, culturais e econômicas muito diferentes. Além disso, Iñárritu faz com que as pessoas dependam uma da outra na narrativa. Nesse momento, o diretor consegue fazer com que nos sintamos angustiados assistindo o filme, refletindo sobre quando precisaremos de alguém que não conhecemos.

Filme: 21 gramas (Alejandro Gonzáles Iñárritu)

No ano seguinte de Amores Brutos, o diretor fez 21 Gramas, filme que se passa nos Estados Unidos e segue o mesmo padrão do primeiro: três histórias, que se encontram em determinado momento, e provocam reflexões sobre a perda e sobre os relacionamentos. Desta vez, os atores são todos americanos, incluindo grandes nomes como Sean Penn, Benicio Del Toro e Naomi Watts. A semelhança com o primeiro filme levou Iñárritu a pensar em uma trilogia.

Filme: Babel (Alejandro Gonzáles Iñárritu)


Nele, o diretor vai do México para o mundo. As várias histórias se passam nos Estados Unidos, Marrocos, Japão e México. A produção também foi grandiosa, com um orçamento de 25 milhões de dólares, e atores como Brad Pitt e Cate Blanchett, além da volta de Gael García Bernal, que atuou em Amores Brutos.

Filme: Adeus, minhas concubina (Farewel my concubine)


Na Pequim de 1925, a academia Toda Sorte e Felicidade ensina a arte da interpretação a meninos pobres e sem lar. Um deles, Douzi (Mingwey Ma), é filho de uma prostituta. O garoto Shitou (Yang Fei) o protege e se torna seu amigo. É um lugar com um sistema de aprendizado puxado, dirigido pelo mestre Guan Jinfa (Lu Qi). Por seus traços femininos, Douzi é treinado a fazer papéis de mulher, enquanto Shitou, um tipo mais rude, papéis masculinos. Os anos passam, Douzi e Shitou aprofundam seus estudos e se tornam atores famosos da Ópera de Pequim. Cheng Dieyi (Leslie Cheung) e Duan Xiaolou (Zhang Fengyi), nomes que adotam na vida artística, continuam amigos e interpretam a peça Adeus Minha Concubina . Quando Xiaolou se apaixona pela prostituta Juxiam (Gong Li), a amizade começa a se desfazer e eles param de trabalhar juntos. Não bastasse, o exército japonês invade Pequim, Xiaolou é preso e Juxian pede a ajuda de Dieyi. É o momento para decidir se prevalecerá a amizade de Dieyi e Xiaolou ou o amor de Juxian e Xiaolou.
A fotografia assinada por Changwei Gu é uma verdadeira festa para os olhos, complementada com um belíssimo e bem elaborado figurino e um trabalho de maquiagem perfeito.

Filme: Rescue Dawn - Com Christian Bale

As expectativas são sempre grandes quando se fala num filme de Christian Bale, e ainda maiores quando este tem um ótimo aspecto, e excelentes críticas. Eu sou suspeita prá falar, um de meu atores preferidos, está espetacular nesse papel.
É uma história verídica, sobre Dieter Dengler, um piloto americano que é capturado durante uma missão em Laos, no início da Guerra do Vietnam.

Quando um realizador europeu pega numa história verídica norte-americana, o que podemos esperar? Um intercâmbio de competências. É o que acontece em neste filme bélico "old fashion" brilhantemente escrito e realizado.
Em 1965, o Mundo ainda não sonhava com as proporções que a guerra do Vietname iria assumir dentro de poucos anos. Mas os Estados Unidos já tinham em marcha operações secretas de extermínio de alvos estratégicos, na fronteira com o Laos. O tenente Dieter Dengler só queria voar. Mas na sua primeira missão, a aeronave é alvejada e o militar cai em território inimigo. Aprisionado num campo de concentração feito em bambú, aquele homem obstinado luta pela sua sobrevivência. Até ao fim e nos limites da condição humana.
Imperdível!

Livro: Anna Karenina - Leo Tolstoy

Só um gênio como Tolstói consegue prender alguém a um livrão de 750 páginas escrito há tanto tempo! Sim, ele gasta tempo descrevendo cada detalhe da vida rural de Liêvin e todas as idas e vindas do pensamento de Kitty, mas é delicioso. O legal é que os personagens não são totalmente coerentes, suas resoluções mudam, enfim, como seres humanos normais. Todos são muito verossímeis. Ana vivia relativamente bem com Karênin, mas, quando se apaixona, ele vira um demônio na sua opinião agora tão parcial. Vronski é movido por um amor verdadeiro, mas é cheio de imaturidades, pequenas ambições e irresponsabilidades de um rapaz bonito e boêmio. Liêvin gosta da vida rural, mas não finge um amor que não tem pelo povo do campo, que considera meio bruto e primitivo. Kitty é vaidosa e volúvel, mas seu coração é tão lindo! Adoro eles dois! Como todas as obras de Leon Tolstói, esse livro é extenso e critica a aristocracia com a propriedade de quem faz parte. Anna Karenina conta mais do que a história de uma mulher que se casou por conveniencia. Ele é um retrato da Rússia na epóca de Tolstoi (O livro foi escrito entre 1875 e 1877).
O filme deixa um pouco a desejar mas o livro é uma grande novela psicológica de Tolstoy e retrato da Rússia do século XIX.Depressão, descontrole emocional e muita tristeza, marcam os últimos dias de Anna..comovente...Só se deseja o que ainda não se tem ou o que já se perdeu... Sempre...

Filme: Geração Roubada (Rabbit-Proof fence)

Em 1931, foi criada uma lei na Austrália para a integração dos aborígenes na sociedade branca. Graças a esta famigerada lei, famílias eram separadas e as crianças transportadas para campos de aprendizagem, onde elas eram "civilizadas" e condicionadas a aceitarem seu papel de criadas e subalternas dos brancos.
"Geração Roubada" é a trajetória de três meninas, Molly, Grace e Daisy, que, após terem sido conduzidas a um destes acampamentos, fogem, ambicionando retornar para sua terra natal, distante quase três mil quilômetros de onde elas estavam.
No entanto, esta empreitada não significa apenas um desejo de retorno ao lar, mas sim uma reafirmação de sua própria identidade, um atestado de que elas não precisavam adotar hábitos e cultura alheias porque elas já pertenciam a uma cultura. Somente uma motivação tão visceral e intrínseca justificaria aquela força de vontade que as fazia caminhar, fugir dos perseguidores e passar fome.
Esta produção australiana é tão envolvente, que é impossível deixar de torcer para que as meninas consigam realizar seu intento.
Baseado numa história real (o que torna o filme ainda mais supreendente), "Geração Roubada" é magnifíco; com a participação de Kenneth Branagh, que enriqueceu ainda mais a história, e uma excelente trilha sonora composta por Peter Gabriel.
Não é um filme com muitas peripécias, mas é maravilhoso. Recomendo efusivamente e creio que quem assistir não se arrependerá.

28 agosto 2009

Filme: Mar Adentro (Com Javiér Bardem)

O filme de Alejandro Amenábar é baseado em história verídica, é uma poesia pura e visual, funcionando como um drama imperdível para quem gosta da vida ou para quem precisar reafirmar sua existência. Posso dizer, sem medo de errar, que é uma verdadeira obra de arte. O longa é denso, pesado e consegue sustentar seu ritmo por possuir diálogos afiados e personagens cativantes, o que nos traz a comoção e a preocupação com o destino dos personagens. Mar Adentro levanta questões pesadas sem se preocupar em sentimentalismo barato.
Outros pontos positivos do filme de Amenábar são: a fotografia – existe uma viagem surreal do personagem principal, que me emocionou muito – e a trilha sonora, triste na medida certa. Falar do talento de Javier Bardem, é chover no molhado, por isso prefiro elogiar a atuação de Belen Rueda, como uma advogada doente que quer ajudar o acidentado a resolver seus problemas. Ela está impecável.
A história narra a vida de Ramón (Javier Bardem), um homem que era totalmente saudável, inteligente e viril, até sofrer um acidente e ser obrigado a viver, contra sua vontade, paralisado em uma cama, dependendo da ajuda de seus familiares para todas as suas necessidades básicas. Vinte e seis anos depois, ele consegue uma advogada disposta a ajudá-lo em seu caso. Confrontando questões morais, religiosas e sociais, Ramón tenta legalizar uma petição que lhe dê autorização para cometer eutanásia, sem que nenhuma das pessoas que o ajudarem sejam prejudicadas por suas ações.
Mar Adentro é sensível como os filmes de David Lynch e duro como as produções de Stanely Kubrick. Ou seja, é cinema de verdade. Lola Duenas foi eleito actriz do ano - com toda a justiça - tal como Celso Bugallo e Mabel Rivera venceram os prémios secundários enquanto que o jovem Tamar Novas e Belen Ruedas venceram os prémios revelação.

Filme: Frozen Land (Paha Maa)

“Frozen Land” (“Paha Maa”)baseia-se no conto de Tolstoi “Faux Billet”. Esta referência é feita logo no início do filme, na aula de literatura de Pertti (Pertti Sveholm), um professor que, depois de ser despedido, cai no alcoolismo e, num impulso, expulsa de casa o seu filho Niko (Jasper Pääkkönen). Sob o efeito de drogas e álcool, Niko usa o computador do seu amigo Tuomas (Mikko Leppilampi) para imprimir uma nota de 500 euros. Com ela compra um rádio numa loja de artigos em segunda mão. Aí a nota passa para as mãos de Isto (Mikko Kouki), que é preso quando a tenta usar num restaurante. Isto vinga-se roubando um carro a um negociante de automóveis (Samuli Edelmann), que, por sua vez, confisca, por falta de pagamento, o carro de Teuvo (Sulevi Peltola, magnífico), um alcoólico em recuperação que vende aspiradores porta-a-porta. O destino destas personagens, interligado através de estranhas e trágicas coincidências, irá ainda ligar-se ao de Hannele (Matleena Kuusniemi), uma mulher polícia em plena crise depressiva e do seu marido Antti (Petteri Summanen), professor. “Frozen Land” aborda a teoria do caos, à semelhança de filmes como “Butterfly Effect", em que um simples acontecimento desencadeia uma série de desastres e fatalidades. Numa estrutura de episódios que se misturam, lembrando “21 Grams” de Alejandro González Iñarritu, “Frozen Land” não é exactamente circular, porque não há regresso possível, não há meio de emendar o passado, por muita capacidade de perdão que se possa ter. E porque “Frozen Land” não é um filme sobre o perdão, mas sobre a vingança. A vingança sobre os outros pelo mal que nos sucede. Porque recusamos o arbitrário e porque apenas vemos um lado da história, o ser humano precisa de se libertar do seu mau-estar passando aos outros, e com ele a sua raiva, as suas frustrações, os seus desamores, os seus erros. Com realismo, “Frozen Land” fala de problemas como o desemprego, o alcoolismo, a toxicodependência, a depressão, a violência. Tudo ambientando numa Helsínquia fria.
Um filme negro e triste, para o qual contribui a escuridão do tempo de Inverno, das casas mal iluminadas, dos ambientes lúgubres. Apenas a cena inicial/final se reveste de luminosidade, como se depois de todas as desgraças que acabámos de assistir, aquela fosse a luz da esperança de que a vida tem lago de bom ainda reservado.

Livro: A revolução dos bichos - George Orwell


Verdadeiro clássico moderno, concebido por um dos mais influentes escritores do século 20, 'A revolução dos bichos' é uma fábula sobre o poder e sistemas políticos. Narra a insurreição dos animais de uma granja contra seus donos, a tomada do poder a utopia de uma sociedade justa. Progressivamente, porém, a revolução degenera numa tirania ainda mais opressiva que a dos humanos.Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945 depois de ter sido rejeitada por várias editoras, essa pequena narrativa causou desconforto ao satirizar ferozmente a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista. Com o acirramento da Guerra Fria, as mesmas razões que causaram constrangimento na época de sua publicação levaram 'A revolução dos bichos' a ser amplamente usada pelo Ocidente nas décadas seguintes como arma ideológica contra o comunismo. O próprio Orwell, adepto do socialismo e inimigo de qualquer forma de manipulação política, sentiu-se incomodado com a utilização de sua fábula como panfleto.Depois das profundas transformações políticas que mudaram a fisionomia do planeta nas últimas décadas, a pequena obra-prima de Orwell pode ser vista sem o viés ideológico reducionista. Mais de sessenta anos depois de escrita, ela mantém o viço e o brilho de uma alegoria perene sobre as fraquezas humanas que levam à corrosão dos grandes projetos de revolução política.

Filme: Dançando no escuro - Lars von Trier (Com Björk)


Dançando no Escuro se passa em 1964 e conta a história de Selma, interpretada por Björk, imigrante do Leste Europeu que vai para os Estados Unidos acompanhada de seu filho. Portadora de uma doença hereditária que a deixará cega em pouco tempo, Selma trabalha dia e noite com um só objetivo: poder pagar uma cirurgia para o filho, que sofre do mesmo mal. A paixão por filmes musicais torna-se a única válvula de escape da pobre moça em sua vida tão difícil. A produção intercala o eixo narrativo principal com números musicais, que são devaneios da personagem central. Mesmo em momentos de extrema tensão, Selma se aliena do que está a sua volta e brilha em grandiosos espetáculos imaginários, muito bem realizados pela atriz principal e pelo diretor. As coreografias estão bem feitas e as músicas são primorosas, contando com o toque especial da harmoniosa e pungente voz de Björk.
A cantora está simplesmente perfeita no papel. Encarna a personagem mantendo-se verossímil do começo ao fim, encantando e comovendo o público. Revela-se uma artista completa: além de ter uma voz singular, provou ser uma brilhante atriz, o que lhe rendeu o Globo de Ouro e um prêmio em Cannes. Sem dúvida, merecidos.
A direção de Lars von Trier se priva de tecnologia. O longa-metragem foi filmado
em câmera digital, pelas mãos do próprio diretor. Ainda assim, tem uma bela fotografia, especialmente nas cenas dos espetáculos. Por ser longo e com pouca ação, Dançando no Escuro exige certa paciência do público. É denominado um filme de arte, ou seja, a maioria das pessoas o acha chato. A crítica aos Estados Unidos é clara na película. Selma, que foi para o país em busca de uma solução para seu problema, é explorada e acaba tendo um fim trágico. Poucos não irão se revoltar e se comover com a história, que é triste em um nível não visto em produções hollywoodianas. Trier é impiedoso com a personagem central, assim como a América é com os que se aventuram lá. Uma história imperdível da realidade dura e cruel contrapondo-se à felicidade romântica das fantasias. Bonita obra, que há de ser apreciada pelos adoradores do bom cinema.

Filme: Osama

VENCEDOR GLOBO DE OURO MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Uma menina de 12 anos e a sua mãe perdem os seus empregos quando os Taliban decidem fechar o hospital onde trabalham. Os Taliban proíbem as mulheres de saírem de casa sem uma "companhia legal". Com a morte do seu marido e do seu irmão e ficando sem ninguém para sustentar a família, além de não poder saír de casa, a mãe fica num beco sem saída. Sentindo que não tem outra opção, ela decide disfarçar a sua filha de menino. Sob o nome de OSAMA, a menina embarca numa terrível e confusa viagem em que é preciso impedir a todo o custo que os Taliban descubram a sua verdadeira identidade. Inspirado numa história verídica,"OSAMA" é o primeiro filme inteiramente Afegão rodado desde a ascenção e queda do regime Taliban.

Filme: Sob o efeito da água (Com Cate Blanchett)

Sob o Efeito da Água não é um filme agradável. Traz Cate Blanchett trabalhando como uma gerente de locadora de DVDs em Cabramatta, subúrbio de Sidney que tem o apelido de Little Saigon pela grande quantidade de vietnamitas que moram nele e por ser a capital da heroína na Austrália. A própria personagem de Cate é uma ex-drogada que acaba de sair de uma clínica de desintoxicação. Cate está fascinante, como sempre, no papel da trintona destruída. Seu irmão envolveu-se em um acidente de carro com o ex-namorado (estavam ambos drogados) e perdeu a perna. A mãe vive em uma marcação cerrada. Na tentativa de ter um negócio próprio, pede empréstimos para os bancos locais, mas os bancos negam-lhe crédito por conta do seu currículo. O diretor não poupa nada nem ninguém. Faz quase um documentário sobre a tragédia pessoal dessa família. Entram em cena o melhor amigo da personagem, Hugo Weaving, antiga estrela do futebol hoje completamente viciado – foi ele quem a introduziu na droga – e Sam Neil, como o chefão local do tráfico – ele é casado, mas mantém casos homossexuais com adolescentes, que lhe custará um divórcio escandaloso. Os dois já foram amantes e trocam um beijo logo no início do filme. A Austrália apresentada no filme está bem longe da imagem de único país desenvolvido dos trópicos: suja, viciada e corrompida. A trama resumida acima ainda terá morte por overdose, suborno, roubo, extorsão e assassinato até que termine, tudo filmado precisamente, sem exageros. Tudo parece crível e, por isso, implacável.

Filme: Para sempre Lilya (Lilja 4-ever)


A bela Lilya, de apenas 16 anos, se vê sozinha no mundo quando é deixada pela mãe, que vai viver com o novo marido nos Estados Unidos. No subúrbio de um país da antiga União Soviética, ela passa a viver num pequeno apartamento sem condições de higiene, energia elétrica e aquecimento. Desesperada com sua condição, a adolescente divide seus dias com seu único amigo, Volodya, um garoto de 11 anos. Não demora para que ela apele para a prostituição para ganhar dinheiro. A vida da garota, porém, tem alguma perspectiva de mudança quando ela conhece Andrei. Apaixonada, ela aceita o convite dele para morar na Suécia, arrumar um emprego e começar tudo de novo. Volodya desconfia da rapidez em que as coisas aconteceram e Lilya pode ter uma desagradável surpresa com a mudança. Para Sempre Lilya recebeu uma série de prêmios em festivais internacionais.

Filme: O declínio do império americano (Denys Arcand)

Filme que gerou o sucesso ‘As Invasões Bárbaras’ é verborrágico e pretensioso, mas tem idéias inteligentes. O filme é muito simples e tem um formato meio problemático, porque é 100% constituído de diálogos, o que o torna cansativo e dá a impressão de ser mais longo do que realmente é. Os oito personagens são divididos em dois grupos. Os homens preparam um jantar numa casa de campo, à espera das mulheres, que fazem ginástica na cidade antes de se dirigirem à área rural. Ambos os grupos conversam. Sexo, traições e relacionamentos de um modo geral são os temas das conversas dos dois grupos. Eles se encontram a partir da metade do filme.
O diretor franco-canadense teve a felicidade de abordar, às vezes de forma periférica, muitos problemas que caracterizaram os anos 1980. Um dos personagens masculinos, por exemplo, é um gay que sofre porque só pode se abrir com os amigos mais íntimos, e mesmo assim não conta a ninguém sobre as suspeitas de estar sofrendo de Aids. Detalhes como esse, contudo, ao mesmo tempo em que enriquecem a trama e dão contornos humanos aos personagens fictícios, também impõem uma barreira à platéia. É pouco provável que qualquer pessoa com menos de 30 anos, de qualquer geração, compreenda os dramas daquelas pessoas – o cinismo que esconde os fracassos pessoais, as mentiras desnecessárias, o modo quase desesperado como se entregam a aventuras sexuais.
Todos sabem que, quase 20 anos depois, Arcand retornou aos personagens no longa-metragem “As Invasões Bárbaras”. No filme de 2003, ele fez a mesma coisa que havia feito em 1986, apresentando os personagens de determinada geração reagindo às coisas em volta. No novo filme, o cineasta – certamente mais experiente – acrescentou dois elementos que ampliam o leque da audiência do filme: a morte e o melodrama. Isso faz de “As Invasões Bárbaras” um filme melhor. As duas obras, contudo, têm uma coerência admirável, e cada uma ganha muito quando vista ao lado da outra.

Filme: As invasões bárbaras (Denys Arcand)

O grupo de amigos e parentes que passa os últimos dias com Rémy (Rémy Girard o mesmo personagem de "O Declínio do Império Americano", é formado por professores, antigas amantes, a ex-mulher e um casal gay. Nestes encontros são memoráveis os diálogos da geração que acreditou nas mudanças e que agora convive com guerras preventivas em nome da paz.O filme questiona em doses variadas o antiamericanismo, o holocausto indígena, a eutanásia, a globalização, a discriminação das drogas e principalmente a permanência dos valores, os quais estão acima de qualquer ideologia. Principalmente a amizade entre pais e filhos que o dinheiro não compra. Parece propaganda, mas não é.Remy apega-se à vida e tem saudade desta antes mesmo de deixá-la. Saudade das conquistas, mulheres e ideologias. Sua amizade com a junkie Nathalie é um dos pontos altos do filme.Os homens passam e as obras ficam. Esta é a mensagem do filme As Invasões Bárbaras. E a saída está nas estantes para afugentar o fascismo velado nas primeiras leituras. Apesar de toda a burrice, de todos os fascilosófos dizendo que não há saída, apesar disso tudo, a sensibilidade e bom gosto sempre resistirão. A propósito: o título do filme se refere aos ataques ocorridos aos Estados Unidos em 11 de Setembro. As invasões bárbaras seriam o primeiro ataque bárbaro a atingir o império. Tudo isso é revelado em um diálogo, uma grande crítica à política imperialista ianque. Não deixe de ver, é imperdível. Detlhe que o filme foi feito 17 anos depois com praticamente o mesmo elenco de Le Déclin de L'Empire Américain de 86.

Filme: Pecados Íntimos

Pecados íntimos foi o melhor filme americano de 2006.
O romance faz com que Sarah (Kate Winslet) passe a rever seus próprios conceitos sobre o matrimônio e a busca da felicidade. Num sarau literário, ela comenta o livro Madame Bovary, de Flaubert. Para Sarah, as ações adúlteras da protagonista, até então vistas como reprováveis, são, agora, entendidas como reações naturais de uma mulher insatisfeita com os rumos da sua vida. Presa a um casamento infeliz, Emma Bovary tinha o pleno direito de encontrar a alegria e realização pessoal por outros meios, ainda que isso significasse a traição ao seu companheiro. Sarah, a Bovary dos tempos atuais, simboliza a mulher Século XXI, auto-suficiente, detentora de uma autonomia sobre suas próprias decisões e capaz de assumir as devidas responsabilidades.
Olhamos pelas janelas, silenciosamente, e deparamo-nos com problemas conjugais, com pequenos conflitos, com banalidades do quotidiano. Julgamos um pedófilo, atacamos o adultério, cochichamos no Clube de Leitura bem ao jeito da Oprah Winfrey. Em suma, temos dentro da tela a vida suburbana de umas quantas personagens.

Filme: Revelações (The human stain)

"REVELAÇÕES", desencadeia aplausos e controvérsias na crítica (e ganhou o Prêmio PEN/Faulkner 2001). Ambientado durante as audiências para o impedimento presidencial, da década de 90, REVELAÇÕES expõe a vida oculta de Coleman Silk, descrito por Roth como "capturado pela armadilha de uma História, com a qual ele não contava muito". Silk parece ser um eminente intelectual judeu e marido dedicado. Mas a verdade sobre Coleman Silk é muito mais complexa do que qualquer pessoa conheça. Entre outras coisas, Silk esconde-se atrás de um espesso véu de mentiras - por ter suprimido a sua origem em uma família de negros, para encontrar a liberdade que ele achou impossível de encontrar de outro modo. Os segredos persistem até ele conhecer Faunia, uma faxineira igualmente reticente, com a metade da sua idade. Ela desperta algo, ao mesmo tempo sexual e emocional, que o leva, inexoravelmente a uma confrontação com o passado.
O filme brota da idéia de que não importa o que uma pessoa faça, o ser humano sempre deixa uma marca no mundo, (seja de fúria, desejo, ambição ou casual), como uma cicatriz ou nódoa, que não pode ser eliminada. Para Coleman, esta marca é a fraude e a sombra que ele carregou durante décadas.

27 agosto 2009

Livro: Papillon


Esse livro é um "tijolão", me transportou a lugarese situações e me prendeu completamente. Há quem diga aqui no Brasil que Henri Charrière jamais escreveu o livro, que os manuscritos eram de seu companheiro de prisão René Belbenoit. Verdade ou não, é ótimo! Papillon foi terceiro livro mais vendido no planeta, o filme bateu recordes de bilheteria.

Filme: 2 perdidos numa noite suja

Nova York, 2001. Paco (Débora Falabella), que é uma mulher que se chama Rita mas odeia ser assim chamada, tinha feito sexo oral com um "cliente" em um banheiro público. A situação saiu do controle, pois ele descobriu que Paco era uma mulher e ficou violento, e apenas não não piorou devido à interferência de Tonho (Roberto Bomtempo), que limpava o local e deixou o "cliente" desacordado. Paco aproveita a situação para roubá-lo, mas como tinha feito Tonho perder o emprego divide com ele o dinheiro. Eles então descobrem que ambos são brasileiros. Tonho, com saudades de falar português, convida Paco para ficar no seu "apartamento", que é na verdade um galpão abandonado. Tirando o fato de serem estrangeiros eles nada têm em comum. Enquanto Paco é uma pessoa bem determinada e agressiva, Tonho é humilde, mas está cansado de subempregos e quer voltar para o Brasil. Paco por sua vez sonha alto e quer se tornar uma mega popstar. Por falta de opção e necessidade eles vivem um cotidiano infernal, no qual Paco agride verbalmente Tonho praticamente o tempo inteiro. Esta convivência forçada de dois imigrantes que vivem à margem da sociedade irá revelar gradativamente a falta de esperança por uma vida mais digna.

Filme: Bagdad Cafe

Sem dúvida esse é um filme que merece ser visto. Sua simplicidade encanta, mostra o valor das pequenas coisas e de como um pouco de organização e limpeza podem fazer as coisas muito melhores. Pela singeleza das ações e de como o ser humano é carente de atenção. O filme mostra, como os verdadeiros amigos podem aparecer no meio do nada em um dia qualquer e mudarem nossas vidas para sempre. Um filme que fala sobre recomeços. Uma divertida comédia, daquelas inteligentes que, até eu descobrir o circuito underground americano, só havia encontrado em filmes europeus. Uma boa opção para um fim de semana chuvoso, ou não. Bagdad Café, nos brinda com duas personagens femininas e marcantes. Duas mulheres que ficarão em nossa memória emotiva: Jasmim e Brenda.
A trilha musical tem três ponto altos. Mas sem sombra de dúvida, “Calling You“, na voz de Jevetta Steel, emociona! “Uma brisa quente vindo justamente na minha direção… uma mudança se aproximando… como uma doce libertação.”

Filme: Tsotsi (Infância Roubada)

"Tocado pelo mesmo tipo de dinamismo que marcou "A Cidade de Deus", Tsotsi traz uma energia fresca ao familiar lema de crime e redenção".
Baseado no livro do aclamado escritor sul africano, Athol Fugard, "Tsotsi" é um filme profundamente comovente, que segue as pisadas de um rapaz negro de 19 anos, impiedoso líder de um gang dos arredores de Joanesburgo, durante seis dias.Orfão desde muito pequeno, sem memória do seu passado, incluindo o próprio nome, a viver na absoluta miséria social e psicológica de um gueto, o jovem luta pela sobrevivência sem qualquer sentimento de compaixão por alguém.Um dia, "Tsotsi" dispara sobre uma mulher para lhe roubar o carro - sem reparar, no seu pânico de fugir, que leva um bebé no banco de trás...Trilha sonora bem interesante.

Filme: Um beijo roubado (My blueberry nights) Wong Kar Wai

Aplaudido de pé pelos críticos e pelo público que se emociona e torce pela vitória do amor, Um Beijo Roubado é um dos filmes mais bonitos do ano. Dirigido com sensibilidade e muita criatividade por WONG KAR WAI, o badalado cineasta de "Amor à Flor da Pele" e "2046 - Segredos do Amor". A vida de Jeremy (Jude Law, de O Talentoso Ripley), dono de um charmoso café, muda radicalmente quando ele recebe a visita de Elizabeth (a cantora Norah Jones), uma jovem de coração partido com quem conversa noites adentro. Em busca de um novo rumo, Elizabeth (a cantora Norah Jones), uma jovem de coração partido com quem conversa noites adentro. Em busca de um novo rumo, Elizabeth parte em viagem através dos EUA, onde faz amizades com um policial (David Strathairn, indicado ao Oscar de Melhor Ator por Boa Noite Boa Sorte) que não consegue esquecer a ex-mulher (Rachel Weisz, ganhadora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por O Jardineiro Fiel) e uma sexy jogadora de cartas (Natalie Portman, a rainha Amidala de Star Wars), Jeremy, muito apaixonado, acompanha a jornada desesperadamente através de telefonemas e cartas. Com fantástica trilha sonora de Cat Power (que faz uma participação no filme), Norah Jones, Ry Cooder, Otis Redding, Cassandra Wilson, Gustavo Santaolla, entre outros.

Filme: Nenhum a menos (Not one less)

O professor Gao de uma escola multi-seriada de uma pequena aldeia chinesa chamada Shuiquan tem que se ausentar das aulas para cuidar de sua mãe doente. O presidente da aldeia, por falta de opção, escolhe uma garota de 13 anos chamada Wei Minzhi para substituí-lo nas atividades docentes. Tanto o professor quanto o presidente da aldeia advertem Wei que se ela deixar algum aluno abandonar a escola, deixará de receber seus honorários. O diretor do filme, Zhang Yimou, ousou na forma de produzi-lo, pois os atores eram pessoas do próprio local, com perfil psicológico similar aos dos personagens e utilizando seus próprios nomes. A história se passa num local extremamente pobre da China, onde permanecer na escola é um grande desafio para as crianças e sua famílias, pois muitas acabam desistindo de estudar para trabalhar na cidade e ajudar na sobrevivência da família. Nenhum a menos é um filme que faz o expectador pensar sobre questões sociais e suas conseqüências na formação educacional das pessoas. Propõe a reflexão sobre o motivo que leva um educador a se envolver com seus alunos e a compreender o seu papel na instituição de ensino. Faz uma crítica aos governos que pouco investem em educação. O filme emociona com uma história simples que no início pouco promete, mas que no decorrer envolve pela poesia e realidade colocadas frente a frente numa perspectiva humana renovadora.

August Strindberg: A cada virtude corresponde um vício

Habituo-me a só pensar bem dos meus amigos, a confiar-lhe os meus segredos e o meu dinheiro; não tarda que me traiam. Se me revolto contra uma perfídia sou eu, sempre, a sofrer o castigo. Esforço-me por amar os homens em geral; faço-me cego aos seus erros e deixo, indulgente ao máximo, passar infâmias e calúnias: uma bela manhã acordo cúmplice. Se me afasto de uma sociedade que considero má, bem depressa sou atacado pelos demónios da solidão; e procurando amigos melhores, acho os piores. Mesmo depois de vencer as paixões más e chegar, pela abstinência, a uma certa tranquilidade de espírito, sinto uma auto-satisfação que me eleva acima do próximo; e temos à vista o pecado mortal, a vaidade imediatamente castigada. Como explicar que toda a aprendizagem de virtude dê origem a um novo vício?

August Strindberg, in 'Inferno'

Fime: O Invasor

É uma aquisição obrigatória para quem gosta de cinema nacional e para quem busca uma história bem contada, com linguagem e forma diferentes daquelas encontradas no cinemão americano. Brant fez um filme violento, mas sem mostrar uma cena sequer de sangue ou tiro. O que é violento em O Invasor é sua linguagem, a montagem composta basicamente de planos-sequência e a câmera no ombro, sempre em movimento. Participação do rapper Sabotage e atuação impecável de Paulo Miklos e Mariana Ximenes.

Filme: Intacto



E se a sorte fosse uma coisa palpável, um dom que se pode aprimorar, como a escrita e a fala? Ou o conceito de sorte é apenas a cética série de coincidências movidas por uma fé cega? É sobre estes questionamentos que se trata o filme INTACTO, uma produção espanhola de 2001, um intrigante exercício de suspense e tensão que joga o espectador para o centro de um jogo diferente onde o destino é o personagem principal. Federico (Eusebio Poncela de OLHOS MORTAIS) trabalha em um cassino que fica isolado do mundo, neste cassino as apostas são altas e quando alguma pessoa começa a ganhar mais vezes do que deveria seus serviços são necessários. Só que o ofício de Frederico não é matar os vencedores ou trapacear para que percam o dinheiro, mas simplesmente tocar nelas. Acontece que Frederico tem um raro dom, ou uma maldição, que consiste em "drenar" a sorte das pessoas. Estranho dizer desta forma, trabalhar com o conceito de que um atributo como a sorte pode ser trocada, tirada ou transferida, mas a medida que a trama se desenrola isto acaba ficando perfeitamente plausível. E mesmo que ao final da projeção você não goste do resultado, deve, pelo menos, admirar a tentativa de se fazer algo diferente. O filme foi muito aclamado pela critica que foi exibido com sucesso em diversos festivais de cinema e arrebatou vários prêmios. Colocando em poucas palavras, sendo totalmente fora do convencional, INTACTO fez sucesso por suas próprias qualidades e não tem nada de sorte nisso.

Filme: O passado (El Pasado)

O filme é baseado no livro homônimo do escritor argentino Alan Pauls, e dirigido pelo meio-argentino, meio-brasileiro Hector Babenco. A história tenta nos mostrar a diferença entre um homem e uma mulher diante de um mesmo conflito, a separação. Ele a mantém a salvo em algum lugar, tentando, no entanto, caminhar numa direção diferente até que tudo se acalme. E ela não consegue se desvencilhar, encontrando Rímini até em um alemão e correndo contra tudo para trazê-lo de volta.
Segundo Babenco, o próprio Alan Pauls o chamou de louco por acreditar que o livro fosse intransponível para o cinema, por se tratar de uma história composta mais por divagações e silêncios, do que por ações. Mas não foi o que pareceu. A trama parece bem roteirizada, sem nos dar aquela impressão de que os fatos vão sendo mostrados como num videoclipe, para que um romance de 480 páginas caiba em duas horas de filme. Tudo transcorre sem nos assustar.
Boa mesmo é a Analía. Atriz argentina com 15 anos de experiência em teatro, ela está muito bem no papel da apegada Sofia, alternando suavidade, tensão e loucura de maneira competente. Legal mesmo é ver Babenco numa ponta como projetista de um cinema, pois isso deve ser uma referência à sua própria juventude onde, como ele mesmo disse, encontrava refúgio para seu deslocamento social entre os clássicos estrangeiros, aproveitando também para conhecer novas culturas de uma maneira agradabilíssima.

Ernest Becker: A negação da morte

Os homens são tão necessariamente loucos que não ser louco seria outra forma de loucura. Necessariamente porque o dualismo existencial torna sua situação impossível. Um dilema torturante. Louco, porque tudo o que o homem faz em seu mundo simbólico é procurar negar e superar sua sorte grotesca. Literalmente entrega-se a um esquecimento cego através de jogos sociais, truques psicológicos, preocupações pessoais tão distantes da realidade de sua condição, que são formas de loucura. Loucura assumida, loucura compartilhada, loucura disfarçada e dignificada, mas de qualquer maneira "loucura"...

Filme: A vida dos outros (Das leben der Anderen)


A Vida dos Outros, escrito e dirigido pelo cineasta estreante, Florian Henckel Von Donnesmarck, Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira de 2007, além de outras inúmeras premiações, mostra, numa linguagem contundente, mas de excepcional qualidade, como um governo autoritário - o da extinta República Democrática Alemã - procurava assegurar o poder mediante cruel sistema de controle e vigilância sobre seus cidadãos, principalmente os da classe artística.Diferentemente do que ocorria em Adeus, Lênin, de Wolfgang Becker, o filme de Florian Donnesmarck reconstitui Berlim Oriental, em 1984 – cinco anos antes da queda do muro - como de fato era, para quem a conheceu, uma cidade sombria e misteriosa. Por isso, há de se destacar, em primeiro lugar, a qualidade da fotografia, monocromática, de Hagen Bodanski, pela qual o cineasta estreante compõe planos com a maestria e o estilo de um competente veterano.Também o roteiro, elaborado por Donnesmarck com apoio em pesquisas feitas nos arquivos públicos e nas bibliotecas, é perfeito nos mínimos detalhes, uma vez que sabe caracterizar, desde o início, como thriller político, um argumento que trata, na verdade, da evolução de um indivíduo, de uma personalidade, num meio adverso. Pois de fato o núcleo dramático está centrado na figura do agente da Stasi ( polícia secreta da Alemanha Oriental), Gerd Wiesler (Ulrich Mühe), o qual, já no prólogo, explica aos seus alunos, o infalível método de inquirição por ele desenvolvido para obter confissões de pessoas que conspiram contra o regime.

Filme: Trilhos do desino (Rails & Ties)

Alisson Eastwood, filha de Clint Eastwood, tem sua estréia na direção cinematográfica com este drama intitulado aqui no Brasil de "Trilhos do Destino". A cria do "Clintão" apresenta em sua condução das câmeras uma postura semelhante a de seu pai, a simplicidade na narrativa e o forte apelo emocional dos dramas de seus personagens. Pena que não conte com uma trilha sonora tão marcante quanto as composições empregadas nos filmes de Clint Eastwood, já que o elemento mais irritante e destruidor deste filme é a insuportável trilha de Kyle Eastwood(também filho do Clint) e Michael Stevens.A trama é bastante previsível e é inegável que tenha sido criada para levar o público aos prantos: Megan é uma mulher em estágio avançado de um câncer passa a cuidar de um garoto que acaba de perder sua mãe, vítima de um "acidente" envolvendo um trem conduzido pelo esposo de Megan. Até aí nada demais, existem uma série de filmes com a roupagem de melodrama, mas que acabam desviando-se de caminhos óbvios e se tornam verdadeiras obras-primas. Mas em "Trilhos do Destino", a trilha de Eastwood e Stevens acaba antecipando momentos dramáticos, nunca entrando em harmonia com o que de fato acontece em cena.O melhor aspecto deste filme, e é neste ponto que Alisson Eastwood apresenta sua competência diante das câmeras, é o desempenho formidável de seu elenco. Eastwood conduz seus intérpretes de maneira exemplar, arrancando uma atuação intensa de Marcia Gay Harden e de seu parceiro Kevin Bacon. Devo assumir, que Gay Harden obtém uma ligeira vantagem com relação a seu colega de elenco. Na pele de Megan, Gay Harden demonstra uma sensibilidade rara para apresentar a condição de sua personagem. O filme ainda traz uma revelação, o jovem ator Miles Heizer, que interpreta o garoto que acaba sendo "adotado" pelo casal principal, o garoto demonstra uma maturidade única em sua performance.Alisson Eastwood faz uma estréia na direção envolvente e sincera em "Trilhos do Destino". É verdade que a diretora iniciante acaba sendo sabotada por elementos externos, mas não há como negar a qualidade do desempenho do elenco deste filme que consegue ser sincero nos propósitos e dramas de seus personagens, ainda que seu roteiro, escrito por Micky Levy, acabe caindo em obviedades, o que não chega a ser um ponto negativo em "Trilhos do Destino". Quem sabe Eastwood não consiga um cinco estrelas da próxima vez?

Edvard Munch


Filme: Bem me quer,mal me quer (A la folie..pas du tou)

Em Bordeaux, Angélique (Audrey Tatou), uma estudante de Belas Artes, parece ter tudo na vida: juventude, beleza e uma promissora carreira como artista plástica. Mas ela só tem olhos para o amor. É que ela desenvolveu uma paixão desmedida pelo Dr. Loïc, um médico cardiologista de renome, de 35 anos, casado e prestes a ser pai.
A despeito de tudo o que seus amigos lhe dizem e de diversos acontecimentos que provam o contrário, Angélique persiste na idéia de que Loïc também a ama, transformando o que de início parecia ser um desencontro amoroso em uma perigosa obsessão, pois cada vez mais ela tem como certo que um dias eles irão se casar.
"Bem-me-quer... Mal-me-quer" é uma ótima comédia dramática, muito bem conduzida pela diretora Laetitia Colombani, que também co-assina o roteiro. O filme é basicamente dividido em duas partes: inicialmente, Colombani apresenta a versão de Angélique sobre os fatos; em seguida, a história é recontada sob a ótica do Dr. Le Garrec. Esse tipo de narração parece extremamente eficaz, num fascinante exemplo de como contar uma história, proporcionando uma inesperada reviravolta.
Além dos ótimos roteiro e direção, "Bem-me-quer... Mal-me-quer" apresenta ainda uma bela fotografia, assinada por Pierre Aïm, e excelentes interpretações, com destaque para a atuação de Audrey Tautou.

Filme: Vermelho como o céu (Rosso com il cielo)


Filme baseado na história real de Mirco Mencacci, um garoto apaixonado por cinema que perde a visão aos dez anos de idade e é mandado para uma escola para crianças especiais. Mesmo sob a tutela rígida de religiosos que não aceitam a criatividade do garoto, ele batalha contra sua condição, desenvolvendo-se como um habilidoso editor de sons através de um velho gravador e rolos de fita usados. Suas criações e a influência sobre seus colegas causam a expulsão de Mirco, que move uma cidade durante os movimentos políticos que mudaram a Itália da década de 70. Hoje, Mirco é um dos mais famosos editores de som da indústria italiana.
Ah, essas histórias de superação (verídicas, ainda por cima) sempre cheiram a pieguice. Por sorte, não é o caso. Vermelho como o Céu, de Cristiano Bortone, evita qualquer apelação lacrimogênea e o resultado é que, por isso mesmo, alcança, em sua simplicidade e sinceridade, aquilo que se pode chamar de uma emoção verdadeira. Isto é, não resultante de recursos apelativos.
Passou pelo crivo do público exigente porque sabe dosar seus elementos dramáticos com senso de economia e trata seu personagem principal de maneira amorosa, porém sem complacência. Entra na história um dado tão cruel como interessante - na Itália daquela época, as crianças portadoras de deficiência visual eram obrigadas a estudar em escolas especialmente destinadas a elas, o que equivale a dizer que eram segregadas. É o destino de Mirco, que será transferido para um colégio para cegos em Gênova.