28 agosto 2009

Filme: O declínio do império americano (Denys Arcand)

Filme que gerou o sucesso ‘As Invasões Bárbaras’ é verborrágico e pretensioso, mas tem idéias inteligentes. O filme é muito simples e tem um formato meio problemático, porque é 100% constituído de diálogos, o que o torna cansativo e dá a impressão de ser mais longo do que realmente é. Os oito personagens são divididos em dois grupos. Os homens preparam um jantar numa casa de campo, à espera das mulheres, que fazem ginástica na cidade antes de se dirigirem à área rural. Ambos os grupos conversam. Sexo, traições e relacionamentos de um modo geral são os temas das conversas dos dois grupos. Eles se encontram a partir da metade do filme.
O diretor franco-canadense teve a felicidade de abordar, às vezes de forma periférica, muitos problemas que caracterizaram os anos 1980. Um dos personagens masculinos, por exemplo, é um gay que sofre porque só pode se abrir com os amigos mais íntimos, e mesmo assim não conta a ninguém sobre as suspeitas de estar sofrendo de Aids. Detalhes como esse, contudo, ao mesmo tempo em que enriquecem a trama e dão contornos humanos aos personagens fictícios, também impõem uma barreira à platéia. É pouco provável que qualquer pessoa com menos de 30 anos, de qualquer geração, compreenda os dramas daquelas pessoas – o cinismo que esconde os fracassos pessoais, as mentiras desnecessárias, o modo quase desesperado como se entregam a aventuras sexuais.
Todos sabem que, quase 20 anos depois, Arcand retornou aos personagens no longa-metragem “As Invasões Bárbaras”. No filme de 2003, ele fez a mesma coisa que havia feito em 1986, apresentando os personagens de determinada geração reagindo às coisas em volta. No novo filme, o cineasta – certamente mais experiente – acrescentou dois elementos que ampliam o leque da audiência do filme: a morte e o melodrama. Isso faz de “As Invasões Bárbaras” um filme melhor. As duas obras, contudo, têm uma coerência admirável, e cada uma ganha muito quando vista ao lado da outra.

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